A nova realidade da força de trabalho no Brasil
02 fevereiro, 2022
Assim como verificados em movimentos que emergem em outros países, brasileiros buscam mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional
São Paulo, 2 de fevereiro de 2022 - O modelo de trabalho das empresas vem passando por uma profunda transformação nos últimos dois anos. A consolidação de formas experimentadas neste período, como o home office integral e formas laborais híbridas, já são uma realidade em diferentes segmentos no Brasil. Contudo, novos movimentos que surgiram em mercados com ampla e diversa força de trabalho, como o dos Estados Unidos da América, já chamam a atenção de gestores de RH para as novas mudanças que o cenário pós-pandemia pode trazer.
Nos EUA, no movimento denominado “A Grande Resignação”, milhares de trabalhadores estão se demitindo por não aceitar um trabalho sem propósito e com condições precárias e muitas vezes de baixa remuneração. O levantamento mais recente da Pesquisa de Vagas em Aberto e Rotatividade de Trabalho do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos (Relatório Jolts, na sigla em inglês), mostra, por exemplo, que o número de norte-americanos que voluntariamente deixaram seus empregos subiu para um recorde de 4,5 milhões, somente no último mês de novembro.
A vice-presidente de Recursos Humanos da ADP na América Latina, Mariane Guerra, destaca que o movimento que está ocorrendo nos Estados Unidos possui características diferentes em relação ao mercado do Brasil e da América Latina. “A legislação trabalhista norte-americana e, também, a forma de remuneração das pessoas, que na maioria das vezes, recebe por hora, faz com que a realidade de um trabalhador nos EUA tenha características que não são vivenciadas pela maioria dos empregados latino-americanos”, analisa.
Além disso, complementa a executiva, o mercado de trabalho dos EUA, pela característica da economia do país, que é um das maiores do mundo, também vivencia um cenário positivo, onde as pessoas têm mais segurança para deixar seus empregos. Os últimos dados divulgados pela ADP, que é a maior processadora de folha de pagamentos de empresas privadas dos Estados Unidos, mostram, por exemplo, que as empresas criaram 534 mil postos de trabalho em novembro de 2021, e outros 807 mil em dezembro.
Mudanças no mercado de trabalho do Brasil
Mariane comenta que, apesar dos trabalhadores brasileiros vivenciarem situações distintas de pessoas de outras regiões, é inegável que os últimos anos transformaram a forma com a qual as pessoas se relacionam com a atividade laboral e, até mesmo, o período que estão dispostas a dedicar para o trabalho. “Este é um ponto que precisa ser considerado pelos gestores no estabelecimento de políticas que levem em consideração também o interesse dos funcionários”, pontua a vice-presidente de Recursos Humanos da ADP.
Uma pesquisa recente, realizada pela ADP Research Institute, com trabalhadores de 17 países, incluindo o Brasil, mostrou que, na América Latina, mais de seis em cada dez (63%) pessoas afirmam que a pandemia os forçou a fazer escolhas ou concessões entre vida pessoal e profissional. No Brasil, na Argentina e no Chile, equilibrar o trabalho e as necessidades da família foi o maior desafio no período pandêmico (22% afirmaram isso), mais do que manter a saúde (18%).
“Ao evidenciar este ponto na pesquisa, os trabalhadores latino-americanos mostram que a qualidade de vida é um ponto central para eles. Ou seja, ter um tempo maior para dedicar-se a atividades mais prazerosas e à família ganhou ainda mais relevância. Assim, as empresas que desejam reter seus talentos - ou até mesmo atrair novos - terão que mostrar de forma clara como suas políticas estão estruturadas para buscar este objetivo”, explica Mariane.
A executiva pontua que, hoje, muitos gestores estão focando seus esforços apenas em combater problemas como a síndrome de burnout. Segundo Mariane, os gestores estão corretos em apoiar o trabalhador para suportar este problema que é muito sério. Contudo, o que muitos gestores não entendem é que é preciso olhar o problema de uma forma mais ampla, identificando quais os fatores que levaram o empregado a desenvolver o burnout, por exemplo.
“Atualmente, não há mais espaço para a realização de gestão vertical, no qual o chefe constrói as políticas de trabalho e apenas informa aos empregados. Isso precisa ser construído de forma coletiva, considerando a realidade do negócio e de seus funcionários”, finaliza.
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